“Pequena Ladainha…”, estreia de Chico Carvalho na dramaturgia e direção, volta em temporada no TUSP

Ladainha (Subst. Fem.)
1 – Série de curtas invocações em honra de Deus, da Virgem ou dos santos.
2 – Enumeração ou conversa longa e fastidiosa; lenga-lenga.
3 – Discurso longo e monótono.

A peça inédita, escrita e dirigida por Chico Carvalho, é a primeira Ladainha de uma série que, como autor e diretor, o ganhador do prêmio Shell de melhor ator em 2013 inaugura a sua companhia, a Cia do Bife.

Assisti quando a montagem estreou, e fiquei encantado com a qualidade plástica, com a atuação, com os elementos surreais. Fica-se tenso para depois desarmarmos com pontadas de um humor fino. Alguém anuncia que um leão acaba de fugir do circo, enquanto isso, o telefone toca. E entre a decisão de levantar-se para atender a chamada ou resolver tomar providências quanto à fuga do animal, alguém se apresenta para narrar a história de uma curiosa epidemia de decapitações espontâneas. Enquanto isso, uma banda passa ao longe, e a previsão meteorológica promete uma nevasca, ainda que nem um único floco de neve houvesse caído por ali desde os primórdios da civilização.

O nome completo da peça é “Pequena Ladainha Anti-Dramática para o Episódio da Fuga do Leão do Circo e Outros Boatos Pouco ou Quase Nada Interessantes…“. Nela Carvalho demonstra particular opção estética. A partir de poucos elementos, luz, música, sonoplastia, figurino e atuações afinadas, o diretor constrói pictóricos enquadramentos. O entrosamento entre recursos cênicos e atuações precisas sugere ainda um ritmo, que revela o apreço de Carvalho pela música orquestral, além das artes plásticas. Lirismo e humor percorrem o espetáculo.

(Fotos por Julia Armentano)

Três insólitas personagens, vividas pelas atrizes Ana Junqueira, Daniela ThellerSarah Moreira, ao evocarem pequenas ações do cotidiano, jogam uma lente de aumento na essência de desejos, frustrações e ansiedades.  “É como se a grandeza do que somos estivesse não nas grandes jornadas de longo alcance, mas nos pequenos passos, no engatinhar silencioso, no anonimato das mesquinharias invisíveis”, afirma Chico Carvalho.

Segundo o diretor, trata-se de uma anti-peça, encrencada em ação nenhuma, conflito nenhum, com intervalos, soluços de preenchimento instantâneo e sem promessas de futuro. Até mesmo as personagens são estampas vazias de psicologia, feito máscaras revezadas pelos atores. “Sincopas, soluços e intervalos aparentemente desconexos, juntos tratam de erguer a imagem dessa criatura formatada por essa qualidade atual de existência sem recheio, ou recheada até a tampa”, completa.

Ficha Técnica:
Direção: Chico Carvalho
Texto: Chico Carvalho
Elenco: Ana Junqueira, Daniela Theller, Sarah Moreira
Figurino: Marichilene Artisevskis
Iluminação: Junior Docini
Trilha sonora: Daniel Andrade e Fabricio Bonni
Cenários e Adereços: Zé Valdir Albuquerque

DICA DE MOBILIDADE: Se estiver afim de uma caminhada, o TUSP fica à 15 minutos a pé da estação República do Metrô. Ou então descendo na estação Paulista da linha amarela, basta pegar mais um ônibus que desça a Rua da Consolação sentido centro.

Pequena Ladainha Anti-Dramática para o Episódio da Fuga do Leão do Circo e Outros Boatos Pouco ou Quase Nada Interessantes…
Temporada no TUSP – Teatro da Universidade de São Paulo:
De 16/09 a 25/09 – sextas e sábados às 21h, domingos às 19h
De 29/09 a 23/10 – quintas, sextas e sábados às 21h e domingos às 19h.
R. Maria Antônia, 294 – Vila Buarque, São Paulo – SP
Classificação etária: maiores de 12 anos
Duração: 60 minutos
Ingresso: R$ 30 inteira / R$ 15 meia

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