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Onde Vivem os Bárbaros

Com direção de Wallyson Mota e dramaturgia de Pablo Manzi, espetáculo cria uma reflexão sobre a democracia e sobre quem pode exercer a cidadania em nossa sociedade

Hoje é o Dia Nacional dos Surdos, data criada em 2008 para prestar homenagem à fundação da primeira escola de surdos do Brasil, o INES (Instituto Nacional de Ensino de Surdos), que se deu nesse mesmo dia em 1857.
 
Em parceria com o Infoteatro nós estamos indicando peças teatrais que contam com acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva ao longo dessa semana. O segundo espetáculo que indicamos é “Onde Vivem os Bárbaros“, que faz uma sessão com interpretação em LIBRAS no dia 13/10, quinta-feira, às 20h30, no SESC Pompeia.
 

Depois de ganhar uma versão em forma de peça-filme, Onde Vivem os Bárbaros, a quarta montagem do Coletivo Labirinto, finalmente teve sua estreia presencial no dia 21 de setembro no Sesc Pompeia, onde segue em cartaz até 14 de outubro.

O espetáculo, assim como os outros trabalhos do grupo, pesquisa o olhar para as relações do sujeito com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea. O texto é assinado por Pablo Manzi e a direção, por Wallyson Mota, que também está no elenco ao lado de Abel Xavier, Carol Vidotti, Ernani Sanchez e Ton Ribeiro.

Embora o grupo tenha adaptado o texto teatral para a linguagem audiovisual, segundo o diretor, apenas no palco é possível desfrutar das estruturas originais pensadas para a construção da obra. Afinal, como ele próprio explica: “Se o cinema é o território da imagem, o teatro é o da ação. Essa distinção é fundamental para o que estamos realizando. Estamos agora no processo de transformar todas as imagens construídas em ação cênica”.

Onde Vivem os Bárbaros
Fotos: Mayra Azzi

“O espetáculo promove através de uma situação ficcional uma espécie de ágora contemporânea sobre vários pontos de nossa vivência política, social, histórica e até mesmo filosófica. Essa ideia de que uma certa assembleia pode surgir ao redor da narrativa só é possível em sua plenitude no teatro. Isso porque o teatro é um espaço de comunhão, um lugar onde uma coletividade se agrupa ao redor de algo ou de uma ideia, onde podemos compartilhar sensações, pensamentos e emoções através da simples presença dos corpos”,
acrescenta Mota.

A trama conta a história de três primos que se reencontram depois de vários anos sem se ver. O anfitrião, diretor de uma ONG reconhecida, revela estar envolvido em um estranho assassinato, fato que desencadeia manifestações de violência entre os convidados. Esse encontro aparentemente familiar torna- se cada vez mais terrível com o aparecimento de personagens que vão agravar as ideias que cada um construiu sobre o outro, sobre o inimigo.

Ainda sobre a construção da encenação, o diretor explica que a peça-filme se dividia em duas grandes partes. A primeira se tratava de prólogo que se passava na Grécia no século 5 a.C., época conhecida como o berço da civilização ocidental e do pensamento democrático. E a segunda passava-se no Chile, em 2015, com algumas situações que provocam reflexões e discussões sobre essa mesma democracia, apontando alguma noção de decolonialidade.

Fotos: Mayra Azzi

“Agora, estamos acrescentando um terceiro bloco, o do Brasil em 2022. Nosso espetáculo estará em cartaz no período exato das eleições presidenciais e parlamentares, que acontecem sob um terrível fantasma de ameaça às instituições democráticas e à liberdade do pensamento dissonante. E essas ameaças ocorrem justamente em favor de uma ordem colonialista e
repressora. Trazer algo desse momento para essa nossa ágora cênica e demarcar território sobre esses pontos nos parece fundamental para o momento”, revela.

Escrita no Chile, a peça apresenta uma ampla base de reflexão para traços determinantes de nosso percurso social, tais como a normalização e a validação da violência dentro de contextos supostamente democráticos.

O texto traz ainda uma oportuna reflexão sobre o arquétipo do bárbaro. “Bárbaro é aquele que não é cidadão. Por esse viés, é o que está à margem, fora das premissas civilizatórias, o que é visto como bruto, sujo, selvagem. É o que não habita a polis, o que não tem direito de exercer ação sobre o Estado instituído. Mas o que seria uma sociedade civilizada e o que seria uma sociedade bárbara? Acredito que o ponto que mais nos interessa em tudo isso é: quem pode ocupar os espaços de uma pressuposta cidadania hoje? Quem sempre ocupou esses lugares e quem segue sendo apartado/a deles?”, questiona o encenador.

Mota ainda conta que a proposta do grupo não é propor uma reflexão sobre a democracia no sentido de desmoralizá-la. “Queremos falar sobre o entendimento total de sua importância e da constatação de que ela só existe de fato quando as mais diversas pessoas (seja pelo recorte de classe, raça ou gênero) podem usufruir de suas benesses e interferir no seu funcionamento. A democracia de fato só existe quando ela é praticada por todos os setores da sociedade. Por isso, ela é um exercício coletivo e público, que deve ser praticado e desenvolvido a todo instante, para que não deixe de existir”, finaliza.

Fotos: Mayra Azzi

Sobre o Coletivo Labirinto

Fundado em 2013, o Coletivo Labirinto é um núcleo de pesquisa e criação cênica formado por artistas que transitam entre direção, atuação, performance e produção, a fim de investigar as relações dos sujeitos com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea.

O grupo já estreou os espetáculos “SEM_TÍTULO” (2014), de Ariel Farace; “Argumento Contra a Existência de Vida Inteligente no Cone Sul” (2019), de Santiago Sanguinetti; “Onde Vivem os Bárbaros” (2022), de Pablo Manzi; e “Mirar: Quando os Olhos se Levantam” (2022), de Jé Oliveira.

Ficha Técnica

Direção: Wallyson Mota
Dramaturgia: Pablo Manzi
Tradução: Wallyson Mota
Elenco: Abel Xavier, Carol Vidotti, Ernani Sanchez, Ton Ribeiro e Wallyson Mota
Assistente de direção: Carolina Fabri
Cenário e figurino: Lu Bueno
Iluminação: Matheus Brant
Visagismo: Fábia Mirassos
Concepção Sonora: Gregory Slivar
Cenotécnico: Armando Junior
Aderecista: Jésus Seda
Fotos: Mayra Azzi
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção: Corpo Rastreado – Leo Devitto
Direção de Produção: Carol Vidotti
Realização: Coletivo Labirinto

SERVIÇO:

Onde Vivem os Bárbaros, do Coletivo Labirinto
Até 14 de outubro de 2022
Sessão acessível no dia 13 de outubro de 2022
Terça à sexta-feira, às 20h30 (dia 12/10, feriado, às 17h30)
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Água Branca

O Sesc Pompeia não possui estacionamento.

Protocolos de segurança:
O uso de máscara, cobrindo boca e nariz, é recomendado. Se você apresentar
sintomas da Covid-19, procure o serviço de saúde e permaneça em isolamento social.

Ingressos:
Credencial plena: R$ 9,00
Estudantes, Idosos, PCD e seus Acompanhantes (meia entrada): R$ 15,00
Outros (entrada inteira): R$ 30,00
Venda online em sescsp.org.br
Classificação: 14 anos
Duração: 75 minutos
Capacidade: 40 lugares

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