Últimos dias da exposição da Adriana Varejão na Pinacoteca de São Paulo

Mostra engloba trabalhos inéditos e as séries mais importantes da carreira da artista plástica brasileira

A primeira vez que eu li a respeito da Adriana Varejão foi por causa de sua obra “Celacanto Provoca Maremoto”, hoje instalada nas quatro paredes de uma sala na galeria dedicada ao trabalho da artista no Inhotim. Tentando achar imagens das pichações que surgiram no Rio de Janeiro na década de 70, que estampavam a frase que dá nome à obra, me deparei com uma descrição dos azulejões que lhe dão forma e foi um dos motivos da minha primeira visita ao Inhotim.

Para quem quer conhecer um pouco do trabalho de Adriana Varejão, uma oportunidade é a exposição na Pinacoteca de São Paulo, que entra em sua última semana.

Adriana Varejão: Suturas, fissuras, ruínas

A mostra de Adriana Varejão (Rio de Janeiro, 1964) segue até 01/08 na Pinacoteca de São Paulo. A panorâmica é a mais abrangente já realizada sobre o trabalho da artista, reunindo, pela primeira vez, um conjunto significativo de mais de 60 obras, desde 1985 até 2022. 

O diretor-geral  da  Pinacoteca  de  São  Paulo,  Jochen  Volz,  assina  a curadoria. A obra de Varejão põe em pauta o exame reiterado e radical da história visual, das tradições iconográficas europeias e das convenções e códigos materiais do fazer artístico ocidental. Desde suas primeiras pinturas barrocas, a superfície da tela nunca é mero suporte; ao contrário, é um  elemento essencial da mensagem da pintura. O corte, a rachadura, o talho e a fissura são elementos recorrentes nos trabalhos desde 1992. Varejão não tem medo da ruptura e da experimentação. 

A exposição evidencia essas características e o corpo de obras ocupa 7 salas da Pinacoteca assim como o Octógono. A curadoria inclui desde as primeiras produções, da década de 80, quando Adriana ainda estudava na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, como as pinturas “A praia“, “O fundo do mar” e “O Universo“, todas de 1985, e chega até as recentes pinturas  tridimensionais de grande escala da série Ruínas de charque.

(Crédito das fotos: Isabella Matheus)

No Octógono, espaço central da Pinacoteca, estão 5 trabalhos dessa série. Dois inéditos que foram produzidos especialmente para esta exibição: Moedor (2021) e Ruina 22 (2022). Um terceiro destaque deste conjunto é Ruína Brasilis (2021), generosamente doado pela artista para a coleção da Pinacoteca de São Paulo e esteve em sua última exposição em Nova York no ano passado.

Importante destacar que muitas das obras desta mostra tiveram pouca ou quase nenhuma visibilidade no Brasil, ganhando rumos internacionais quase que imediatamente após a sua realização. É o caso de Azulejos (1988), primeiro trabalho em que Varejão usa como referência um painel de azulejaria portuguesa, encontrado no claustro do Convento de São Francisco, em Salvador.

A tela, que pertence a uma coleção europeia, antecede os seus famosos “azulejos” que acabaram se tornando um fio condutor para tantas outras peças, aparecendo como suporte, geometria ou objeto pictórico. Dada a importância desta matéria em sua trajetória, uma das salas da exposição está dedicada as pinturas influenciadas pela azulejaria portuguesa, entre outras a instalação Azulejões (2000) com 27 telas de 100x100cm cada.

Na exposição, outra série de destaque, a das três Línguas: “Língua com padrão em X“, “Língua com padrão de flor” e “Língua com padrão sinuoso” são apresentadas ao lado das pinturas Comida (1992), Azulejaria de cozinha com caças variadas (1995) e Azulejaria de cozinha com peixes (1995). Num diálogo potente, o espectador se vê lançado entre o suporte, o fundo e as figuras das pinturas.

Em um dos períodos de relevo da mostra, entre 1992 e 1997, Varejão se dedicou ao que podemos chamar de uma série de ficções históricas, emprestando novos significados visuais a mapas, paisagens e interiores do passado colonial. Pode-se considerar que essas obras constituem a fase mais figurativa da trajetória da artista. Uma sala da exposição está dedicada a este conjunto de obras, entre elas se destaca a pintura Autorretratos coloniais (1993) e, nela, a artista se apropria das tipologias de representação das “pinturas de castas” da América Espanhola para falar de assuntos relacionados à violência da classificação racial.

SERVIÇO

Adriana Varejão: Suturas, fissuras, ruínas
Até 01/08/2022
Curadoria: Jochen Volz
Edifício Pinacoteca Luz
Praça da Luz, 02, 1º andar e Octógono
De quarta a segunda, das 10h às 18h
Ingressos no site da Pinacoteca
R$20,00 (inteira) e R$10 ,00 (meia entrada)
Gratuito para crianças até 10 anos e pessoas acima de 60 anos
Sábado, gratuito para todas as pessoas